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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Amor volátil de verão

Era verão,
a escola já tinha acabado, seguem-se as ferias, tinha 17 anos, (eh la, já tive 17 anos!) como sempre eu e a minha prima C, arranjamos trabalho na praia, como de costume, no Pedrogão.
Sempre quis ter a minha dependência financeira, os meus pais ensinaram-me o quanto custa a vida e eu não queria pedir-lhe coisas fúteis duma rapariga adolescente.

Claro que este trabalho também nos trazia liberdade, tinha-mos as nossas responsabilidade e cumpria-mos, mas quando a ocasião se proporcionava, direcção FESTA!!!
Numa dessas festa, conhecemos um grupo de amigos, acho que eram 5, um deles encantou-se pela C, arrastava-lhe a asa.
Dançamos, bebemos, falamos, conversa aqui, conversa acolá, eles estavam a acampar no parque de campismo do Pedrogão, estariam cá 15 dias, nós por sua vez, contamos que estávamos a trabalhar num café junto a praia e a noite passou-se.
No dia seguinte, eles vieram tomar o pequeno almoço no café onde estávamos, um dos moços, o que estava apanhado pela C, (é que já não consigo recordar dos nomes, mas lembro-me de ele dizer que os pais tinham uma funerária -  é pá eu sei, é um pormenor macabro, mas é o que lembro), convidou-nos para mais uma saída e assim foi durante os 15 dias que eles tiveram la.

Aconteceu um grande sentimento de amizade para com aquele grupo, fomos a festas, a discotecas, a praia nos dias de folga, almoços, jantares e havia o João.
Ele era amável, parecia-me que era o mais ajuizado, mas divertido, rapaz doce, pouco mais velho do que eu, escolhia sempre muito bem as palavras e giro, é claro!

Houve uma certa química entre nós, falávamos imenso, nos dias de praia, as tolhas estavam sempre uma ao lado da outra, contou-me que tinha namorada, que tinham uma banda juntos, os seus projecto de vida, e eu os meus.
Além de nutrir um sentimento que parecia ser mais que amizade por ele, nunca disse nada, ele era comprometido, era o que bastava para não ir mais alem, é um princípios que tinha e tenho.
Num dia de praia, andava eu de volta das conchas, ( sim, eu adorava coleccionar conchas), ele encontrou uma, perfeita, que não tinha nenhuma ponta partida, bem enrugada e de tamanho médio, (simmm, eu era exigente com as minhas conchas, o que se há-de fazer), com uma ponta dum pedra, o raio o que era aquilo, já nas toalhas, tentava talhar qualquer coisa na concha, quando finalmente teve o efeito pretendido, deu-ma, com ternura disse-me:

- Para não te esqueceres de mim.

Olho e vejo que consegui-o gravar um J no interior da concha, fiquei surpreendida, não entendia o porquê, mas fiquei muito agradecida.
Os dias passaram, foram noites maravilhosas, vinha-mos quase sempre todos para "casa" a cantar. Musico predilecto da malta, João Pedro Pais! Até a C que não gostava das musicas dele, passou a cantar também connosco.

Chegou a ultima noite, jantamos juntos e fomos só um bar da esquina, eles tinham de acordar cedo no dia seguinte para arrumar a tralha toda e a tenda.
Lembro-me exactamente do sitio, do café em questão, da mini que bebi por uma palhinha, por causa duma aposta perdida, juntos saímos do café, mais conversa....
O João, pede-me para ir junto a praia com ele, queria despedir-se sem alaridos do pessoal, segui-o, já eu lhe estava dizer, para manter contacto por sms, (ainda não havia facebook naquela altura), e beija-me.....
NÃO, não foi um beijo de Hollywood, um simples beijo, mas cheio de emoções, olha-me, pede desculpa, agarra-me as mão e os seus olhos, dizem-me adeus.
Virou as costa, cabeça baixa, não esperou pelos amigos e foi embora.

Eu, bem..., eu, fiquei sem me mexer, percebi que também ele sentia o mesmo que eu, mas por força da vida, não havia nada que ele ou eu pudéssemos fazer, trocamos, na altura, mensagens na época natalícia, guardei-as no telemóvel durante muito tempo.
Nunca mais voltei a vê-lo, nem mantive contacto com ele,
tinha a vida dele eu a minha.

Hoje, revejo esta bela recordação da minha adolescência, quando tudo parecia ser possível, em que achamos que somos capazes de mover montanhas, foram dias felizes, que guardei num canto da minha memoria e que voltaram a superfície, por uma mera coincidência. 


E sim, ainda hoje, em casa dos meus pais, está a concha que ele me deu...















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