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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Divorcio

Calma, que por estas bandas, não há qualquer intenção de tal coisa.

O acto do divorcio, foi discutido diversas vezes entre nós dois, não sei se é saudável ou não, mas foi um tema que abordamos quando pensamos em casar, queríamos que nada afecta-se o nosso bem estar, mesmo se um dia o Amor que nos uniu deixaria de existir por um qualquer motivo, se a felicidade de cada um, não fosse um só, queremos ter a capacidade de nos afastar sem ter-mos de nos magoar mutuamente. Acho que este tema de conversa deu-se por vermos de perto alguns amigos ou até familiares que passaram por esse episódio, num momento da vida deles.

No meu trabalho, sou uma espécie de psicólogo, a sério!! Achava que nunca iria ter uma relação mais além de:

- Bom dia/Boa tarde... é x por favor... Obrigado tenha um Bom dia!

Pois como sou a gaja das cobranças e por muito que tento informar o porquê daquele valor, tenho sempre medo de estar a pedir demais as pessoas, mas a verdade é que os meus clientes, de factos gostam do nosso trabalho e entendem, vá... 98% das vezes o que foi efectuado e o porquê do valor a pagar.
Cobranças a parte, que já estou a fugir do tema a qual vim falar-vos, os meus clientes, vêem-me como psicóloga, ouço enumeras queixas da vida, confidenciam-me segredos duma vida, ja rimos imensos, como já também rolaram lágrimas, chega-me um pouco de tudo aos ouvidos e eu.... bem eu não tirei nenhum cursos para tal, mas tento dizer aquilo que querem ouvir ou muitas vezes simplesmente ouço-os, porque muitos precisam de ser ouvidos.

Hoje uma cliente, que já tinha mencionado que se tinha divorciada, por haver outro elemento a formar o casal, que não os filhos, contou-me as peripécias que tem vindo a enfrentar com a família do ex-marido.
Os avós paternos dos filhos deles, estão a enlouquece-la com processos atrás de processos, queixas infundamentadas de tudo aquilo que possam imaginar, vai de maus tratos até proibição dos filhos estarem com o pai e/ou família paterna.
Todas estas processos, foram sempre ganhos pela minha cliente, pois se há pessoa que luta para dar o que pode e não pode aos 3 filhos é esta mulher!

O meu ponto, aquilo que não consigo entender de todo é o que leva as pessoas a fazer estes disparatos, o que levam pais, avós, famílias no geral, a darem prioridade a serem mesquinhas, dizer ou fazerem barbaridades, colocar os próprios filhos no meio duma batalha que não é deles, onde fica o bem estar das crianças?
Ou será que não entendem que as próprias crianças vivem todo o drama e um dia elas próprias poderão querer dizer o basta!?

Eu não sei o que o que o futuro nos reserva, a minha vida não é de todo um conto de fadas, vamos vivendo os altos e os baixos que a vida no coloca nas mãos, espero nunca ter de passar por um divorcio, mas se um dia tiver de ser, espero que sejamos os mais justo para com os nossos filhos, porque se uma separação fere os adultos, magoa muito mais aos nossos filhos.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Agulha/Aiguille/Needle

De todas situações nestes mundo de ser mãe, já há 27 meses, (como assim já passaram 27 meses????), existe algo que nunca me vou habituar, as agulhas!!!

Como mãe de prematuros, como mãe duma menina com uma cardiopatia complexa, as agulhas estão sempre presente, neste meu mundo o proverbio popular adequado seria, encontra a palha no agulheiro. 

A primeira vez que vi o trabalho duma agulho nos meus meninos, foi no meu Pimpolho, tinha de ser feito o teste do Pezinho, eu não sabia como se procedia, são os meus primeiros filhos, tudo era novidade. 
Ele pequenino, indefeso, na sua caixinha de vidro, com o "esparguete" em riste no nariz adentro, a enfermeira calças as luvas, passa-as pelos bucais e vai a procura duma mãozinha, eu achava que o teste se fazia no pé e a enfermeira explicou, que dado a prematuridade, teria de ser feito no punho.
Quero poder protege-lo, mas só posso ver através da barreira do vidro que nos separa, a enfermeira faz o que tem a fazer, pica-o no sitio devido, colocando as gotas de sangue no papel para enviar para analise.
Durante este processo, o meu menino, ja valente, não chorou, não ripostou, deixou que fosse feito o que tinha de ser feito, em contrapartida, eu que estava do lado de fora das suas barreiras, mal a agulho entrou pela sua pele, as lágrimas caíram, fiquei estática a ver todo processo, a enfermeira ao ver o meu estado, tentou reconfortar-me dizendo que o trabalho das agulhas, seja ele qual for, por vezes, doí muito mais aos pais, que aos próprio filhos. 
O que sei, é que doeu-me...

Isto para dizer, que depois desta primeira vez, tive de assistir a outras centenas delas, vacinas, cateteres, colheitas, técnicas da porcalhota, e afins.

Terça- feira, foi dia de vacina para a Pimpolha, Vacina contra a Gripe e a Pneumo23, sinto que já se encontra cansada dos ambientes de bata branca, ela já não reage tão bem, mais que compreensível, tanto aconteceu desde agosto para cá.
E mais uma vez vi o trabalho que as agulhas laboram, agora posso dar colo, agora posso acalmar, agora posso dizer que vai ficar tudo bem, MAS o que mais me doí, o que mais despedaça o me coração é que AGORA, tenho de conté-la, tenho de impedir que ela se move ou que faça um movimento brusco, antes de poder dar-lhe AMOR, tenho que ser firme ao conter os seus movimentos.
Antes de tudo, peço desculpa, peço para entender que ela não poderia mexer-se, mas nada que lhe diga, me dá conforto.

Não deveríamos ter de fazer isso para administração do que quer que seja, os profissionais de saúde querem a nossa ajuda, entendo e compreendo, mas nós como pais, não deveria-mos ter de passar por esse agonia.  


  

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Turbilhão de acontecimentos, emoções e finalmente... o Sossego #2

Enquanto esperávamos pela data da cirurgia, matávamos saudade do Príncipe pelo Messenger, (agradeço do fundo do coração as nossas tecnologias), eu e a Pequerrucha adorava-mos "telefonar" para o pai em modo Messenger, as saudades sempre crescentes, apaziguavam só de ver que ele, o meu menino de olhos de amêndoa doce, estava bem.

Finalmente, após alguma pressão feita pelos médicos, o cirurgião marcou a cirurgia, dia 14 de setembro por volta das 8.30 da manhã seria, O dia.
O dia que, qual for o resultado, será "um dia" recordado para sempre!

Cheios de medo do conhecido, mas sempre desconhecido, entramos..., uma batelada de médicos surgiram quase que em cima de nós.
Uma enfermeira caminha de seringa na mão, sem pedir licença, sem se quer dizer a minha Princesa o que ela pretendia e a força enfiou a seringa na boca, para ela engolir o liquido que transportava.
Claro está, a minha menina é das valentes, não se deixa intimidar por medidas impostas e o liquido que continha na seringa, foi quase todo cuspido para fora.
Uma mistura de espanto e raiva lia-se nos olhos da enfermeira constatando o óbvio em voz alta:

- Deitou quase tudo fora!

Eu..., bem..., eu até sou bastante pacifica, mas sou uma leoa e se em quase nada me identifico com o meu signo, uma é irrevogável, sou mãe, uma mãe que estava num hospital, para entregar a minha filha para uma cirurgia, portanto ninguém tem de se achar no direito de fazer o que quer que seja a minha cria sem primeiro explicar o que pretende, então a sua óbvia constatação, retorqui com todo o desprezo do meu ser por aquela pessoa, que a força ninguém leva nada dela, se tivesse explicado ao que vinha ela teria tomado tudo e sem reclamar.
Claro que a senhora contestou, pois com apenas 2 anos ela não entendia, mais uma vez expliquei, que minha menina, infelizmente sabe o que ter de tomar remédios, até se calhar melhor que a senhora que estava a minha frente, portanto da próxima vez, faça o favor de explicar para o que vem!

O ambiente tornou-se tenso, os médicos e cirurgiões explicaram que logo iria para o bloco, que o que era para ser administrado, servia para a acalmar, em alguns casos até adormecem, como algum desse medicamento foi ingerido iríamos esperar para ver se faria algum efeito.
A medicação não fez efeito, ou melhor, acho que até fez o efeito contrario, ela pulava..., falava muito depressa..., queria andar pela ala..., bem, uma verdadeira pilha carregada ao máximo.

Como nada estava a correr como previsto, os cirurgiões pediram para irmos andando para o bloco, a porta seria administrada a anestesia pelo cateter que tinha sido previamente posto no dia anterior.
Assim fizemos, ela ao meu colo, quente, alegre, eles (os cirurgiões), a nossa volta assustaram-na, aos pouco a anestesia corria pelas veias, ela queixou-se, o meu coração apertou, o SR. Professor, chama a atenção ao anestesista, ela era apenas uma criança, tinha de ser dado devagar, ela agarra-se a mim com as poucas força que já lhe restavam, quer chorar, eu, o meu marido seguramos as nossas, ela finalmente fecha os olho, entrego-a a um outro cirurgião de feições meigas, digo que a amo e finalmente peço ao mesmo, para cuidar dela.

O SR Professor andou com agente pelo corredor de volta, acho que dizia qual o tempo de duração da cirurgia, digo acho, porque quando as portas do bloco se fecharam, as minhas lágrimas caíram, sem aviso, sem pedirem para jorrar para fora.
Saímos, de mãos dadas, sem dizer uma palavra, os nossos olhos diziam tudo por nós, o meu Homem com o casaquito da nossa Pequerruchada na mão, eu ainda com o seu cheiro no meu colo, andamos, fomos até a rua, respiramos... e como só nós sabemos fazer, fechamos os nossos corações, para deixar de sentir e vagueamos pelas ruas dos arredores dos Hospitais da Universidade de Coimbra.

Quando o relógio deu as voltas prometidas, voltamos, os passos eram largos, mas cheios de timidez, as pernas era feitas de algodão, entramos..., ainda não tinha saído do bloco, as perguntas pairavam ao de cima das nossas cabeças, olho pela janela e espero.
Ouço portas a bater do lado da Unidade de Cuidados Intensivos, vejo uma batelada de médicos de volta a cama onde estava uma mini pessoa deitada, era ela, a minha cria, a minha menina, levanto-me e quase corro para as portas do UCI, sem poder entrar, a espera que alguém venha.

Minutos depois, um deles vem, diz-nos que correu tudo bem, ela está bem, logo irá acordar, para ter-mos um pouco mais de paciência, para a poderem conchegar e poderíamos entrar para vê-la.
Assim fizemos, esperamos, os minutos pareciam anos de espera, até que nos chamam, que nos vestimos de batas, que corremos até ela.
Dormia, parecia um sono descansado, imensos fios e tubos a volta dela, respirava pelo Cpap, (ventilador), para não encharcar logo os pulmões, perguntei se iria ficar muito tempo com ele, disseram-me que provavelmente seria retirado ainda hoje, ela estava a reagir maravilhosamente bem ao novo SHUNT, digo ao pai dela:

- Ela está branca (sorrio para ele)
- Pois está, branca e rosadinha

A enfermeira, que estava ao nosso lado, com ar preocupado pergunta se achávamos mesmo que ela estava branca, com um sorriso de orelha a orelha explico que ela já estava muito roxa, por ter uma saturação muito baixo e que já não me lembrava de a ver com uma cor tão rosadinha, sem tons azulados/roxos e aos poucos o meu coração e o do pai dela, voltaram a bater.

Ele, ainda com a casaquito a volta da sua mão, eu... as lágrimas também voltaram, vê-la ali deitada, mesmo sabendo que tudo isto é para a sua sobrevivência, mesmo sabendo que ela estava bem, ainda não descansaria até a ver sorrir outra vez.