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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Turbilhão de acontecimentos, emoções e finalmente... o Sossego #2

Enquanto esperávamos pela data da cirurgia, matávamos saudade do Príncipe pelo Messenger, (agradeço do fundo do coração as nossas tecnologias), eu e a Pequerrucha adorava-mos "telefonar" para o pai em modo Messenger, as saudades sempre crescentes, apaziguavam só de ver que ele, o meu menino de olhos de amêndoa doce, estava bem.

Finalmente, após alguma pressão feita pelos médicos, o cirurgião marcou a cirurgia, dia 14 de setembro por volta das 8.30 da manhã seria, O dia.
O dia que, qual for o resultado, será "um dia" recordado para sempre!

Cheios de medo do conhecido, mas sempre desconhecido, entramos..., uma batelada de médicos surgiram quase que em cima de nós.
Uma enfermeira caminha de seringa na mão, sem pedir licença, sem se quer dizer a minha Princesa o que ela pretendia e a força enfiou a seringa na boca, para ela engolir o liquido que transportava.
Claro está, a minha menina é das valentes, não se deixa intimidar por medidas impostas e o liquido que continha na seringa, foi quase todo cuspido para fora.
Uma mistura de espanto e raiva lia-se nos olhos da enfermeira constatando o óbvio em voz alta:

- Deitou quase tudo fora!

Eu..., bem..., eu até sou bastante pacifica, mas sou uma leoa e se em quase nada me identifico com o meu signo, uma é irrevogável, sou mãe, uma mãe que estava num hospital, para entregar a minha filha para uma cirurgia, portanto ninguém tem de se achar no direito de fazer o que quer que seja a minha cria sem primeiro explicar o que pretende, então a sua óbvia constatação, retorqui com todo o desprezo do meu ser por aquela pessoa, que a força ninguém leva nada dela, se tivesse explicado ao que vinha ela teria tomado tudo e sem reclamar.
Claro que a senhora contestou, pois com apenas 2 anos ela não entendia, mais uma vez expliquei, que minha menina, infelizmente sabe o que ter de tomar remédios, até se calhar melhor que a senhora que estava a minha frente, portanto da próxima vez, faça o favor de explicar para o que vem!

O ambiente tornou-se tenso, os médicos e cirurgiões explicaram que logo iria para o bloco, que o que era para ser administrado, servia para a acalmar, em alguns casos até adormecem, como algum desse medicamento foi ingerido iríamos esperar para ver se faria algum efeito.
A medicação não fez efeito, ou melhor, acho que até fez o efeito contrario, ela pulava..., falava muito depressa..., queria andar pela ala..., bem, uma verdadeira pilha carregada ao máximo.

Como nada estava a correr como previsto, os cirurgiões pediram para irmos andando para o bloco, a porta seria administrada a anestesia pelo cateter que tinha sido previamente posto no dia anterior.
Assim fizemos, ela ao meu colo, quente, alegre, eles (os cirurgiões), a nossa volta assustaram-na, aos pouco a anestesia corria pelas veias, ela queixou-se, o meu coração apertou, o SR. Professor, chama a atenção ao anestesista, ela era apenas uma criança, tinha de ser dado devagar, ela agarra-se a mim com as poucas força que já lhe restavam, quer chorar, eu, o meu marido seguramos as nossas, ela finalmente fecha os olho, entrego-a a um outro cirurgião de feições meigas, digo que a amo e finalmente peço ao mesmo, para cuidar dela.

O SR Professor andou com agente pelo corredor de volta, acho que dizia qual o tempo de duração da cirurgia, digo acho, porque quando as portas do bloco se fecharam, as minhas lágrimas caíram, sem aviso, sem pedirem para jorrar para fora.
Saímos, de mãos dadas, sem dizer uma palavra, os nossos olhos diziam tudo por nós, o meu Homem com o casaquito da nossa Pequerruchada na mão, eu ainda com o seu cheiro no meu colo, andamos, fomos até a rua, respiramos... e como só nós sabemos fazer, fechamos os nossos corações, para deixar de sentir e vagueamos pelas ruas dos arredores dos Hospitais da Universidade de Coimbra.

Quando o relógio deu as voltas prometidas, voltamos, os passos eram largos, mas cheios de timidez, as pernas era feitas de algodão, entramos..., ainda não tinha saído do bloco, as perguntas pairavam ao de cima das nossas cabeças, olho pela janela e espero.
Ouço portas a bater do lado da Unidade de Cuidados Intensivos, vejo uma batelada de médicos de volta a cama onde estava uma mini pessoa deitada, era ela, a minha cria, a minha menina, levanto-me e quase corro para as portas do UCI, sem poder entrar, a espera que alguém venha.

Minutos depois, um deles vem, diz-nos que correu tudo bem, ela está bem, logo irá acordar, para ter-mos um pouco mais de paciência, para a poderem conchegar e poderíamos entrar para vê-la.
Assim fizemos, esperamos, os minutos pareciam anos de espera, até que nos chamam, que nos vestimos de batas, que corremos até ela.
Dormia, parecia um sono descansado, imensos fios e tubos a volta dela, respirava pelo Cpap, (ventilador), para não encharcar logo os pulmões, perguntei se iria ficar muito tempo com ele, disseram-me que provavelmente seria retirado ainda hoje, ela estava a reagir maravilhosamente bem ao novo SHUNT, digo ao pai dela:

- Ela está branca (sorrio para ele)
- Pois está, branca e rosadinha

A enfermeira, que estava ao nosso lado, com ar preocupado pergunta se achávamos mesmo que ela estava branca, com um sorriso de orelha a orelha explico que ela já estava muito roxa, por ter uma saturação muito baixo e que já não me lembrava de a ver com uma cor tão rosadinha, sem tons azulados/roxos e aos poucos o meu coração e o do pai dela, voltaram a bater.

Ele, ainda com a casaquito a volta da sua mão, eu... as lágrimas também voltaram, vê-la ali deitada, mesmo sabendo que tudo isto é para a sua sobrevivência, mesmo sabendo que ela estava bem, ainda não descansaria até a ver sorrir outra vez.




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