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terça-feira, 19 de maio de 2015

De volta ao passado#23- Ser SUFICIENTE #2

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Claro que a rotina manteve-se, em dias alternados, ou de manha ou de tarde estava com um ou com outro, agora com a vantagem de poder mimar o meu menino em casa, sem alarmes, sem enfermeiros, sem batas, sem cheiro a álcool desinfectante.
Quando ia ter com a Periquita, o Pimpolho ficava aos cuidados da minha mãe ou a minha sogra, foram sem duvida um pilar seguro, nesta travessia, sabia que ele estaria bem e em segurança, (nada melhor, do que avós babadas, para esta tarefa).

Em Coimbra, a Pimpolha continuava na UCI, passaram-se 10 dias e ainda não pude dar colo a minha menina, poderia ser doloroso para ela, diziam os enfermeiros.
A medicação que lhe é dada para manter o seu canal arterial aberto (é uma conexão entre a aorta e a artéria pulmonar, que em casos normais, depois do bebé nascer, fecha) para que o seu sangue vá buscar oxigénio aos pulmões, visto que a sua artéria pulmonar está fechada, tem imensos efeitos secundários.
O Prostin (ou Prostaglandina), que lhe é administrada por entra-venosa, dia e noite, ajuda a estabilizar a sua saturação, mas existe um senão, ela pode desenvolver artrose, na junções dos ossos, insuficiente renal e mais um bilião de outras coisas.
Então como não havia meio de saber se ela sentia ou não dor quando mexida, partias-se do principio que sim.

Um dia, uma enfermeira, perguntou-me se já tinha pegado nela, respondi que não, tinham explicado que podia aleija-la. Então, muito segura de si, a enfermeira, aproximou-se e disse que hoje era o dia, só tinha de ter muito cuidado para não me mexer com ela ao colo, como ela a pusesse nos meus braços. como tinha de ficar.
Assim foi..., parecia um ratito, toda embrulhada na manta para não ter frio, só se via a cabeça, abriu um olho, depois outro, mas deixou-se estar, não chorou, não reclamou. Eu, pelo contrario, chorei, as lágrimas caiam, uma após a outra, pude abraça-la, cheira-la até cantei para ela, o pai estava comigo nesse dia, com ajuda da enfermeira, ele também pode pega-la.
A emoção naquele quarto, era tal, que parecia que o tempo tinha parado, que só la estávamos os 3, ela agarrou-nos, ela sabia, que estávamos ali, por ela, para ela, até..., até ela não aguentar mais e sua saturação começou a baixar, o alarme fazia-se ouvir em toda parte, a enfermeira com muito cuidado colocou-a de novo no seu berço, ela acalmou, a saturação subiu.
Foi um dia marcante, mas soube, dentro de mim, que a nossa menina, sabia que ali estávamos, sabia, que lutava-mos por ela.
Os dias seguintes, pegava nela dia sim, dia não, nem que fosse só 2mn, para ela não se cansar ou sentir dor. Passava os dias a olhar para ela, relatava-lhe as travessuras do irmão, cantava, ajudava a dar o leite, a trocar a mini-fralda, que mesmo assim quase lhe servia de vestido. Fazia tudo aquilo que me era permitido.
O alarme da saturação, soava vezes sem conta, chegou a tempo, que já reconhecia quando era o seu alarme ou de outro bebé. Ela estava monitorizada, pela ala todo do UCI, onde quer que houvesse um ecrã,  os enfermeiros tinham, logo acesso aos seus valores, para poder acudi-la, o mais rapidamente possível, se fosse necessário.

Os médicos ainda não tinham conseguido ajustar a dose certa de Prostin, as oscilações da sua saturação indicava isso, mas também podia indicar que o seu organismo estava a criar uma habituação a medicação, que podia levar ao fecho do seu canal arterial e isso não podia acontecer.
Tudo era medido, contabilizado e contado, a quantidade de liquido ingerido (medicação inclusive), peso da urina (todas as fraldas eram pesadas), para evitar a todo custo que fizesse uma hipertensão, para ajudar a que só fica-se os líquidos necessários para o seu desenvolvimento, para isso fazia, também um diurético.
Isto tudo implicava, que o seu aumento de peso fosse sempre pequeno, em dias bons, metade do aumento dum bebé saudável.

Até, que houve um momento, em que ela quis baixar os braços, a minha Princesa devia estar cansada e deixou-se ir, a sua saturação desceu a pic, entra um batalhão de enfermeiros, médicos, com ecógrafas, com agulhas, com tudo...
Um dos médicos diz, para darem dose maiores de Prostin, ela demora a reagir, mas volta, era uma confusão, mas é isto que recordo. Lembro, que saíram cabisbaixo, tinham receio que ela não aguenta-se, que todo este esforço, o dela, o deles, fosse em vão.

Ela já tinha conquistado o coração do toda aquela equipa, agora ela, tinha de fazer a parte dela, lutar!
Juntas, expliquei, falei, mimei, ela tinha de lutar, ela tinha de conhecer a nossa casa, os tios, os avós, todos a queríamos muito ao nossa lado, agora filha, está nas tuas mãos, não desistes, nunca, tu és melhor que nós todos, tu és mais forte do que nós, do que eu, preciso de ti, je t'aime mon bébé, dizia-lhe eu.

E ela lutou!

*Continua

2 comentários:

  1. Imagino como deve ter sido duro...até me emocionei a ler...

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  2. Foi sim, por sim escrevo, para aliviar esta tensão, para conseguir exprimir por palavras, o que vai cá dentro :)

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