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terça-feira, 14 de julho de 2015

De volta ao passado#26 - Os momentos que merecem ser recordados! Parte2

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Aqui fica mais uns preciosos momentos da nossa caminhada, pois como disse antes, eles fazem parte da nossa história.

  • O colo :)
O primeiro colo dado, as palavras são poucas, para conseguir escrever com exatidão o tamanho da felicidade sentida. Com o Pimpolho, foi o colo canguru, pele com pele, com a Princesa, um colo menos pessoal, ela não podiam ser muito mexida. Mas cada colo, invadiu o meu ser até a alma. Uma mãe quer poder mimar, lamber as suas crias, sendo eles prematuros, a doença da Pequerrucha, fez com que esse dia, tivesse sido adiado.
Acho que só me senti plenamente mãe, quanto os pude cheirar, tal um animal faz com as suas crias e isso é uma lembrança que nunca vou esquecer!

  • A falta de sensibilidade de alguns profissionais!
Infelizmente tive 2 situações bastante difíceis de lidar, que me deixaram de rastos, que fizeram-me acreditar que era uma péssima mãe.
A primeira, aconteceu na curta estadia da minha menina na UCEP de Leiria, como já contei, ela não se adaptou ao ambiente, tudo era novo, rotinas, enfermeiros, cheiros.
No dia da transferência novamente para Coimbra, perguntei o porquê, (ainda não me tinha apercebido que a minha menina não se sentia confortável naquele ambiente novo), perguntei quais os riscos, o que estava a acontecer. A enfermeira de serviço, foi rude, foi brava, foi desumana, explicou com todas as letras que a culpa era minha, se quisesse responder as minhas próprias perguntas, teria ficado sempre ao lado dela, não a desgrudaria nem um minuto e isto tudo a frente de todos os pais que se encontravam na unidade, pais que não sabiam da minha historia mas que ela bem sabia, eu não tinha tido só um filho, mas sim dois!
No meio de lágrimas e lamentos, perguntei se tinha de deixar o meu outro filho órfão de mãe? Se ele também não era prioridade? E que só EU e meu marido sabíamos aquilo que sofríamos, por não poder estar ao lado dos dois todos os dias, a todo instante, que sabíamos muito bem que a vida da nossa menina estava a todo instante, em risco. 
Ela recusou entender, fomos embora com uma ferida enorme aberta no coração.

A segunda, foi muito parecida com a que escrevi acima, mas desta vez em Coimbra, fui chamada pela assistente social, para lhe explicar o porquê de não acompanhar dia e noite a minha menina, tendo em conta o seu estado. Deduzi logo que não sabia que tinha tido gémeos, expliquei, contei que tentava estar o mais presente para ambos. 
Também não quis entender, perguntou se não tinha nenhum familiar que pudesse tomar conta do meu filho, pois quem estava a precisar de atenção contínua era a menina, ela é que inspirava cuidados, expliquei que não era fácil, pois já muito os meus pais e sogros estavam a fazer e reforcei a ideia de que ambos precisavam de mim, mesmo saudável, o meu menino, como todos os bebés, necessita da mãe.
Pediu para rever as minhas prioridades e saí da sala, chorei lágrimas de sangue no caminho de volta ao quarto da Princesa, mais uma vez tudo estava a ser posto em causa, devia realmente ser péssima mãe, pois não sabia onde estava as minhas prioridades, a primeira ferida reabriu, mais profunda, mais dolorosa.

Ao chegar ao quarto, estava a enfermeira O. junto da minha Pequena, perguntou o que tinha sucedido para estar naquele estado lastimável, contei..., por fim perguntei o que faria ela no meu lugar se fosse sua filha, ela do alto de todos seus conhecimentos, respondeu sem hesitar, que ficaria sempre junto dela, eu retorqui, perguntando e se fossem gémeos? Nesse instante, percebeu o meu dilema, ela estava a pensar na sua situação, não na minha, depois de olhar para mim, respondeu com ternura, que faria exactamente o mesmo.

Nesse dia, o caminho para casa foi longo e demorado, as lágrimas caiam uma atrás da outra, a cabeça a mil, tentava em vão encontrar uma resposta a situação, por um lado tinha os médicos dela, aqueles a quem confiei a vida da minha Filha, que me diziam todos dias, para não vir todos dias a Coimbra, que precisava de descanso, que precisava passar tempo de qualidade com o meu Menino, que qualquer alteração seria logo contactada, e contudo estava a ser julgada, mesmo estando todos dias perto dela.
Contei ao meu Homem, ficou devastado, furioso, revoltado, nesse dia, voltamos a noite, ele queria vê-la, ele queria atenuar a dor que tão bem conhecia.
Fomos, mais juntos do que nunca, era tarde, hora de troca de turnos, passamos pela sala de enfermeiros, percebi, senti que eles estariam a falar do que tinha acontecido hoje cedo, pensei naquela gente toda a julgar as nossas prioridades.

Chegamos por fim ao quarto, ela dormia serena, logo atrás veio o enfermeiro J., pensei que fosse ele que estivesse a acompanha-la e que vinha fazer o relatório do seu estado desta tarde, mas não!
Ele queria dizer-nos pessoalmente, o quanto absurdo tinha sido a situação com a assistente social, queria dizer-nos para não fazermos caso, que todos nos apoiavam, que todos sabiam e sentiam a luta que travávamos para poder dar Amor a ambos. Que infelizmente, os casos que necessitam verdadeiramente da intervenção da assistente social, não eram contactados e assegurou-nos que iriam falar com os médicos, para eles terem uma conversa séria com a mesma.
Tanto eu como o meu marido ficamos calados, as lágrimas inundava os nossos olhos, queríamos agradecer, mas as forças por momentos, tinham desaparecido, a custo só consegui agradecer, muito.
Queria poder ter dito, o quanto aquelas palavras estavam a ser reconfortantes, que afinal não estavam-mos a ser julgados, que a confiança que tínhamos por toda aquela equipa estava de novo restaurada e mais solida que antes, o quanto ele estava a ser amável por ter vindo falar com agente.
Mesmo não tendo proferido tudo isto, ele entendeu, quando ficamos novamente sozinhos, choramos abraçados um ao outro, choramos de alivio, afinal não estávamos errados, as nossas prioridade estavam muito bem definidas.

  • A musica que acalma.
Ainda na UCEP em Leiria, existiu um momento intimo entre mãe e filha, que acabou por se alastrar por toda a unidade. Ela estava inquieta, o alarme da saturação não parava de buzinar, por muito que falasse com ela, nada a acalmava, decidi então, com muito cuidado agarra-la, dar um colo meio canguru, (meio, porque como já referi, junto com ela há imensos fios ligados a ela e não da para coloca-la como seria de esperar nesta situação), abri a minha blusa encostei-a o melhor que pude e devagar sentada na poltrona virada para a janela embalei-a e sussurrava a melodia duma musica que me diz muito, (inclusivo foi a minha musica de entrada do meu casamento, eu sei, eu sei, lamechisses!), Seulmentl'amour, de D. Juan - La comédie musicale, (o link está legendado, para quem quiser ver e ouvir).
Ela acalmou, o silencio era Rei na unidade, de repente, éramos só nos duas, estávamos no nosso mundo, até que..., não sei se foram minutos, meias horas, ou horas.
O enfermeiro R. se apercebeu da melodia e do silencio que inundava toda a unidade, fez referencia ao que estava a acontecer, foi quando voltei a realidade e pedi desculpa, não pensei que tivesse a cantarolar tão alto. Ele, amavelmente agradeceu, pois todos os bebes da unidade, estavam em silencio e serenos, fez referencia ao quão benéfico a musica é para os recém-nascidos. 
E EU que achava estar a sós com a minha menina, dentro da nossa bolha, acabamos por embarcar todos presentes.
Foi o momento mais sereno que tive durante todas esta caminhada.


Sabia que havia males pelo mundo, era (sou) consciente disso, mas nunca achamos que eles podem bater a nossa porta. 
Nunca estamos preparados, mas podemos tentar fazer frente e foi aquilo que tentamos fazer até ao dia da alta da nossa Menina.

Continua*



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