Páginas

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

De volta ao passado#18 - Coração dividido #2

Parte 1          Parte 6          Parte 11          Parte 16
Parte 2          Parte 7          Parte 12          Parte 17
Parte 3          Parte 8          Parte 13          
Parte 4          Parte 9          Parte 14          
Parte 5          Parte 10        Parte 15  


(continuação)

O jantar chega, não quero comer, não tenho fome, ainda tenha um nó na garganta, a enfermeira voltou, trouxe a medicação e com muito carinho disse-me que tinha de comer, que logo que me senti-se com força, ela me levaria a ver o meu menino, para poder finalmente estar com ele.
Soltei um desabafo, "mal acabei de ser mãe e já me sinto uma mãe desnaturada, uma má mãe". A enfermeira quase que me bateu, que todo aquilo que aconteceu, ninguém conseguiria reagir de forma diferente e que muito estava a fazer, pois ainda me segurava em pé e isso prova que tinha muito mais forças do que eu estava a avaliar. Quando tivesse ingerido qualquer coisa e preparada, era só chamar para podermos ir até a Neonatal.

Ela sai, vejo o tabuleiro na mesa, mas não queria mesmo comer! A rapariga que estava na cama ao lado, pede ao marido para me trazer o tabuleiro, digo que não tenho fome, ela insiste e ele também,

- Come pelo menos a sopa! Dizem eles.
- Obrigado.
Não tenho forças para argumentar.

Como e apercebo-me que ainda não tinha dado conta com quem está a dividir o quarto comigo. Sabia que eram duas mulheres, mas todos estes acontecimentos, fizeram-me perecer que estava sozinha.
A rapariga do lado devia ser pouco mais velha do que eu, tinha um ar muito simpático e amável e tinha tido uma menina. A mulher do fundo, era uma mulher ja de meia idade, tinham um sotaque estrangeiro, talvez ucraniana e tinha tido um menino.
Elas, tinham os seus filhos, marido, familiares e amigos do lado para poder conhecerem o recém nascido, eu... sozinho, sem ninguém ao meu lado...., o Homem tinha ligado aos nossos pais a explicar o que sabíamos, disse que eu precisava de descansar, para virem amanhã.
Voltei a recompor-me, para distrair-me enquanto comia a sopa, (parecia que a taça não tinha fundo, ARREE!!), concentrei-me no que estava a minha volta e percebi que a mesma rapariga que tinha visto na noite em que fui fazer o registo da noite , que tinha um sinal ao pé do olho e que enroscava o seu bebé, era a mesma rapariga que dividia o quarto comigo, que coincidência!

Finalmente, acabei, chamei a enfermeira, pedi se me podia ajudar para ir ter com o meu menino e devagar, devagarinho, la fomos, eu de pé, sem cadeiras de rodas, eu do meu próprio pé, fui ter com o meu filho.
A enfermeira pelo caminho falou bastante, mas estava tão focada em ir ter com o Príncipe, que não lhe dei a devida atenção.
Chegamos, estava tudo tão calma, não havia monitor a apitar sem parar, os enfermeiros estavam sentados, calmos, havia uma certa serenidade dentro daquela sala.
Sabia de cór onde se encontrava a cama magica do meu Pingente e depois de bem desinfectar as mão, la fui eu quase que a correr, se é que andar aos tropeções, se possa chamar correr!!
A enfermeira que me acompanhou, deixou-me e disse que ando quisesse voltar para cima, seja a hora que fosse, para pedir para a chamar, pois viria buscar-me.

O enfermeiro da Neo, veio ter comigo:

- Como ele está?
- Ta óptimo! esteve um pouco irrequieto depois de todos se irem embora, mas lá sossegou, comeu e caiu no sono.
Ele explica-me, que posso tocar nele, através dumas janelas que existem na incubadora e eu... eu toco na pele delicado no meu rebento, está quente la dentro!
Com muito jeitinho acaricio a minha cria, o instinto animal vem ao de cima e tudo aquilo que quero é poder, tal uma leoa, lamber a minha cria.

Olho para ele, tão pequenino, vejo fios, (electrodes, talvez?), um fino tubo, muito fino a entrar pelo nariz a dentro e tinha num pé um outro fio com uma luz vermelha.

- O que são estes fios todos?
- Então, os do peito são electrodes, (boa!), medem o ritmo cardíaco e o numero de respirações por minuto, no monitor, podes reconhece-los, gráfico verde, ritmo cardíaco, gráfico branco, respiração, depois temos a saturação, que é o gráfico azul, medido pelo sensor que está no pé, que emita esta luz vermelha, (aponta para o pé).

- Saturação???? O que é? Eu ouvi falarem disso quando a minha menina estava cá!
- A saturação mede o nível de oxigénio que existe no sangue em percentagem, que tem de estar a 100%. A sua menina, não conseguia atingir esses valores.
- Porquê?
- Não sabemos, mas não se preocupe, eles no Pediátrico são uns Ás, eles vão perceber o que se passa e vão reverter a situação.

Será?! tenho de acreditar que sim e o Homem que nunca mais liga!!!

- Aqui, o tubinho que entra na narina, é por onde ele come, pois nesta idade ainda não sabem mamar, por isso coloca-se o "esparguete" até ao estômago e fazemos o trabalho por ele! Disse com um ar de riso nos lábios.
- Obrigado.

Olho para o meu Filho, está de lado, virado para mim, não tem pestanas nem sobrancelhas, o nariz é tão pequenino que o esparguete, quase o esconde, está só de fralda, em cima dum cobertor que parece ser de lá, ele mexe-se, tem umas orelhas tão pequenas!
Tento perceber, se se parece com agente, o pouco cabelo que tem é preto, como o pai, o nariz esse é meu, tenho a certeza, mas quanto mais olho mais vejo traços do meu marido. Ao de leve ponho o meu indicador na palma da mão dele e seus dedos fecham em redor, é tão bom, tão...., olho para aqueles dedos pequenos e magrinhos, a unha é como uma pele fina e espanto-me mais uma vez a ver traços do pai na sua mãos, ele tem uma mistura linda minha e do pai nas mãos, dedos pequenos como eu e unha quadrada como o pai, é que sem tirar nem por, como se fosse uma fotocopia em miniatura.
Tem um alarme num tornozelo, mas ou muito me engano ou se ele se mexer muito, o alarme sai pelo pé! Tem também um pulseira no pulso, deve ser onde está o seu nome escrito.
Estou simplesmente enfeitiçada, poderia ficar ali a noite todo só a olhar para ele.

O meu telemóvel toca, é o meu Amor, tenho de sair de pé do Príncipe para atender.
Atendo, ele explica que ela está bem, estável, que os médicos têem de fazer exames, mas suspeitam que seja um problema no coração, para não me preocupar que estão a tratar muito bem da nossa menina, amanhã antes de ir para Coimbra vem ter com agente. Desligo, suspiro, as lágrimas inundam os meus olhos, respiro fundo, limpo as lágrimas, volto ao pé do meu menino.

Ele está acordado, choraminga, um choro lindo, pequeno como ele, é hora de comer!!! :)
O enfermeiro, vem com uma seringa com leite, põe a extremidade no esparguete e o leite deixe e ele cala-se ao sentir o leite assentar no estômago, é magico!!
Peço, se não há possibilidade de poder dar-lhe colo, nem que seja por um instante e... para alegria dos meus ouvidos, o enfermeiro disse que sim!!!
Com muito cuidado abriu a caixinha deu-me uma manta, pediu para abrir uns botões da minha camisa, porque queria fazer a técnica Canguru, consiste em haver contacto com a minha pele com a dele, para ele poder sentir-me.
E assim foi, o meu FILHO..., veio junto de mim, pude senti-lo..., cheira-lo..., beija-lo..., ama-lo..., senti todo o peso que tinha nos ombros se desvanecer, ele estava ali, estava bem, o meu coração sossegou, sussurrei o quanto o amo ao ouvido e ele adormeceu ao meu colo.
O meu pensamento voou para Coimbra, eu sei que ela estava bem e sei que ela também sabe que logo que possa, irei ter com ela.

Ali fiquei, menos tempo do que gostaria, pois ele tinha de voltar para a sua cama aquecida e fechada e eu também, a enfermeira da ala da maternidade estava la, já passava das 3h da manhã e eu precisava descansar, disse ela.

E la fui eu, devagar, devagarinho, de volta para o andar de cima.

Sem comentários:

Enviar um comentário